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Saúde Masculina: como os estigmas sociais afetam a noção de autocuidado nos homens e qual o papel dos pais nisso?

saúde masculina

A saúde é o nosso bem mais precioso, no entanto, muitas vezes negligenciamos o cuidado adequado com ela. Especialmente a saúde masculina tende a ser ignorada pelos homens, seja por falta de conhecimento ou simplesmente por procrastinar exames e cuidados médicos.

No Brasil por exemplo, os homens vivem em média 7 anos a menos do que as mulheres, e em todas as principais causas de morte, a taxa de mortalidade é consideravelmente maior entre os homens: eles representam 70% dos óbitos por doenças do sistema circulatório, 54% dos óbitos por neoplasias, 88% dos óbitos por doenças do aparelho digestivo e 67% dos óbitos por doenças infecciosas e parasitárias.

Outra parte importante do problema é que, além de se cuidarem menos do que as mulheres, os homens tendem a demorar para procurar ajuda ou não buscam em absoluto. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Lado a Lado Pela Vida (que lidera a campanha Novembro Azul) revela que 62% dos homens brasileiros só procuram ajuda médica quando os sintomas relacionados às condições que os afligem se tornam insuportáveis, o que contribui para a redução da expectativa de vida masculina, dada a importância do diagnóstico precoce para o tratamento de diversas doenças.

Diante desses dados, fica evidente a necessidade de olharmos para o tema com mais cuidado e humanidade. E nesse ponto, há um consenso entre cientistas sociais, médicos, psicólogos, educadores e até profissionais da esfera judicial a respeito das causas para a falta de cuidado dos homens com a sua saúde: os estigmas sociais construídos sobre os ideais de masculinidade.

Estigmas sociais

Em muitas culturas, os homens são socialmente condicionados a exibir traços de masculinidade associados à força, independência, coragem e resistência. Esses estereótipos podem levar não somente à falta de autocuidado, mas também à supressão de emoções e a recusa em demonstrar vulnerabilidade ou procurar ajuda, uma vez que admitir problemas de saúde pode ser visto como sinal de fraqueza.

A pesquisa “O silêncio dos homens”, realizada pelo Instituto PdH (instituto de pesquisa da PapodeHomem), explora um pouco das origens e consequências da cultura “masculina” na formação e relação dos homens com a sociedade e com eles mesmos, analisando dados de mais de 40 mil participantes de todo o país.

O estudo revelou que 7 em cada 10 homens não falam de seus medos, dúvidas, problemas e sentimentos profundos com os amigos, o que reflete a tendência que os homens têm de buscarem não envolver pessoas em seus problemas. A origem disso está na forma como moldamos a nossa noção de masculinidade e do que é ser homem, muito pautada nos conceitos de força, resistência e capacidade de provisão.

1. Homens são condicionados a enxergarem seus problemas como menores do que realmente são.

Entre os homens, expressões como “não foi nada”, “você é muito sensível” ou “vira homem!” são muito comuns quando um deles expressa algum problema a seus amigos. Esse comportamento de grupo só reforça a tendência que os homens têm individualmente de ignorar suas questões íntimas, porque já as consideram irrelevantes, quase uma perda de tempo. Essa ideia de que homens não podem demonstrar emoções ou vulnerabilidades se construiu de forma estrutural e imperceptível.

2. Homens são condicionados a serem provedores.

Este é um pilar fundamental da constituição clássica de homem que os dogmas sociais, religiosos, biológicos e evolutivos produziram. Prover alimento, proteção e conforto é um papel que homens tendem a assumir desde muito cedo em diversas famílias, e que não podem cumprir corretamente se estiverem feridos, doentes, cansados ou debilitados. A sociedade, por sua vez, tende a julgar como uma fraqueza um homem assumir alguma dessas condições, o que reforça o comportamento de negação e negligência.

3. Homens são condicionados à ideia de que devem suportar mais.

Além de aprenderem que seus problemas devem ser vistos como menos importantes, a sociedade espera que os homens suportem muito mais coisas. Segundo a educadora Raquel Franzim, podemos encontrar a origem desse conceito na educação que damos aos nossos meninos, que aprendem a olhar menos para suas necessidades:

“Um exemplo que gosto de dar, até por ter sido professora de creche, é que a gente aceita os meninos sujos, com o nariz escorrendo, com uma troca de fralda demorada. O que, com as meninas, a gente tem uma tolerância menor, e com os meninos a gente vai deixando”.

Ou seja, ao enfrentarem uma condição adversa, como um problema de saúde, os estigmas sociais condicionam o homem a três principais tendências: ignorar o problema por não o perceber como um problema, negar o problema para sustentar uma imagem e suportar o problema ao máximo, o que os leva a nunca contar um problema, ou demorar muito para isso.

Um levantamento do Centro de Referência em Saúde do Homem de São Paulo mostra que 70% dos homens que procuram um consultório médico tiveram a influência da mulher ou filhos, e aponta que mais da metade deles adiaram a consulta e já chegam ao médico com doenças em estágios avançados.

Qual é o papel dos pais?

É responsabilidade das famílias e da sociedade como um todo promover a conscientização sobre a importância da saúde masculina. Devemos incentivar nossos pais, irmãos, filhos e amigos a cuidarem de si mesmos, a fazerem exames de rotina e a buscar ajuda médica sempre que necessário.

Quebrar os tabus e estigmas que cercam a saúde masculina e construir um ambiente acolhedor e encorajador é fundamental para que todos possam cuidar de si mesmos e uns dos outros.

Ainda hoje, é muito comum que o cuidado com a saúde e atendimento de necessidades básicas da criança estejam, em maior parte, sob a tutela da mulher (figura materna). No entanto, é fundamental que o pai também assuma esse papel, especialmente no caso dos filhos meninos. A maioria dos homens afirmam ter o próprio pai como principal referencial de masculinidade, porém, apenas 1 em cada 10 homens já conversaram com o pai sobre o que significa ser homem.

Quando um pai se envolve ativamente na educação sobre saúde, ele fortalece o elo emocional com seu filho, demonstrando interesse genuíno em seu bem-estar físico e emocional. Essa conexão estabelecida desde a infância pode influenciar positivamente as atitudes do filho em relação à saúde, ensinando que cuidar da saúde é uma responsabilidade pessoal e uma demonstração de amor-próprio e incentivando a proatividade na adoção de hábitos saudáveis.

Ensinar habilidades práticas para enfrentar os desafios do cotidiano e preservar a saúde mental e física também é parte importante desse processo. Um pai pode orientar o filho sobre como adotar uma alimentação equilibrada, praticar atividades físicas, se hidratar corretamente e desenvolver habilidades para lidar com o estresse e as emoções.

Um pai também pode abordar com mais facilidade temas específicos da saúde masculina, como a importância de exames preventivos e o cuidado com a saúde sexual.

Ou seja, a presença e o afeto de um pai no ensinamento sobre cuidados com a saúde têm um impacto duradouro na vida do filho, que passa a ter as ferramentas necessárias para construir uma base sólida de bem-estar físico e emocional. Cuidar da saúde é uma habilidade essencial para toda a vida, e o legado de um pai nesse sentido é um presente inestimável para seu filho.

A saúde masculina deve ser levada a sério por todos, começando pelos próprios homens. Assim, podemos buscar aumentar a expectativa e a qualidade de vida dos homens e construir uma sociedade mais saudável e resiliente como um todo, que preserva a vida acima de tudo.

Fontes:
Mortalidade Masculina no Brasil
Homens só vão ao médico após sintoma insuportável
O silêncio dos homens
Prevenção